Escrevendo sôbre o fato narrado-acontecido,
Zé de Arimatéia,
e o que se chamaria em psiquiatria de "surto psicótico",
um processo esquizo,
essa experiência enigmática de tornar-se mulher,
é como ser arrastado por uma 'linha de fuga',
um devir intensivo numa prisão de 'machos cearenses',
um deserto duplificado,
o Zé floriu,
foi transpassado pela Vida,
Vida-mulher,
um revirão da pulsão que é sempre de Vida
desde que morte não há,
a morte vive na superfície da Vida
é uma sombra,
melhor, assombração, fantasma,
Já que nunca lhe vimos a cara
tememos e trememos com sua 'imagem cadavérica',
apenas mascára mortuária,
que morte não é.
"Broto psicótico", assim se chamava o surto,
e essa florescência chamada de 'loucura',
um saber des-razoado,
parente da sabedoria em tempos passados.
Esse tornar-se mulher
é diferente da homosexualidade.
Na dissecação ou disertação científica e literária
do "caso Shereber"(1911), produzida por S. Freud,
com seus dotes de S. Holmes,
O juiz-presidente que em suas "memórias de um doente dos nervos"(1903),
já entrado nos 50 anos, durante viagem de sua mulher,
vai dormir e lhe ocorre o pensamento, algo assim:
"Como seria bom ser como uma mulher,
gozar como uma mulher".
No dia seguinte o presidente Schereber,
desperta 'brotado',
e na sua florescência
vai se tornar a mulher de Deus
e produzir nessa terra uma nova raça de "Sherebianos",
o presidente "sentia" os raios solares no cú,
inseminação divina.
Schereber se maquiava,
se fazia mulher para Deus.
Exercia sua função pública de juiz-presidente
e na intimidade era a mulher de Deus
e o mundo lhe parecia encantado.
Que deserto vivia Schereber,
no antigo império austro-hungáro,
para ser atravessado pela Vida-mulher?
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