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Para Aires e a paz interior

Todo meu interesse é com o presente,
são perguntas feitas a partir do presente vivido,
que nos leva a uma deriva histórica.
É como fazer análise, trazemos os motivos dos sofrimentos
vividos no presente e se entra numa deriva histórica, que
leva a uma investigação de nossa constituição.
Entrei em uma de fazer uma investigação arqueológica da
nossa história da civilização e hoje temos dados contundentes
nesse aspecto, depois olhar para o presente e o futuro.
Aires levantou a questão da busca da paz interior X paz exterior.
Se alguém estabelece a paz interior, se alcança um estado de relaxamento
profundo, de claridade, de bem-aventurança, então isso se espalha no mundo
em pensamentos, fala, afetos e ação.
O que implica um trabalho com a estrutura caracterial, uma dissolução da
couraça muscular, visceral e cerebral da caráter. Os Budistas chamam de
'vacuidade', os taoístas de "te", ação sem obstruções, espontaneidade criadora
segundo Moreno(do psicodrama), T. Leary chamaria de "Política da Consciência",
outros doidivanos(sem sentido depreciativo) de "Política do Êxtase", termo que usei
em outros tempos, Antonin Artaud chamou de "corpo-sem-orgãos", concepção capturada
e utilizada por Deleuze e Guatarri.
A paz pode ter níveis, acho que você já entrou no 'caminho da paz', na medida que guarda
e preserva um respeito com o outro, que não atua para provocar desacordos(não é fácil) e
que trabalha no sentido de ampliar a consciência, de afrouxar as exigências que imperam
sôbre si mesmo. Carregamos no interior das nossas células milhões de pré-história, milhares
de história e cultura, que modulam sensações, afetos, pensamentos, tendências, desejos.
Que a paz não seja do cemitério, seja a paz dos vivos, que pulsa com a vida, que afeta e se sente
afetaada com entes, na paz há alegria e tristeza, como no santo e sábio Spinoza, mas com um olhar de espaciosidade desidentificada.
Jung afirma:"a iluminação não consiste em imaginar figuras luminosas, senão em ser consciente da escuridão".
Avalokiteshvara, o Bodhisatvva mais importante, no budismo tibetano,
nos leva a compreender que tudo que tem acontecido em nossas vidas,
tanto de modo direto como indireto, é a consequência de nossas aspirações. Somos os ártifices
de nossa própia realidade.
Na mitologia budista, as deusas Taras, mesmo aquelas coléricas, nasceram das lágrimas congeladas de Avalokitesvara, o "o bodhisatvva da compaixão universal", enquanto esse comtemplava o sistema do nosso mundo, desde o alto, em seu paraíso transcendente.
Na tradição tibetana, as energias de afetuosa bondade de Avalokitesvara tomam nesse mundo a forma dos Dalai Lamas do Tibet.
O Dalai Lama atual diz:"minha religião é bondade, um coração compassivo...que é a raiz e realização de todos os caminhos espirituais...deixem que outros se ocupem de Deus".
Kali, a assasina das sombras, sem Kali(a Tara negra), estaríamos incompletos. Sem admitir
a existência da sombra, sem reconhecer a realidade do fato de que nossas vidas estão totalmente
condicionadas pela instabilidade e pela morte, vagaríamos por um mundo de sonhos.
Quantos esforços empregamos para evitar as inalteráveis realidades do sofrimento, esse mesmo
sofrimento que levou Buda a buscar a iluminação, que fez com que Avalokitesvara chora-se e se
produzi-se o nascimento de Tara? Ao abrir a porta a Tara, aceitamos a totalidade da experiência.
Kali é conhecida, reconhecida e venerada em todos os lugares onde floresce o hinduísmo. Kali afirma a existência do selvagem, do errático, o incontrolável.
Sua origem é reveladora. Não teve pais. Quando a deusa Durga se achava em meio a uma luta com grandes demônios, sua cara se enegreceu de fúria, franziu a testa com raiva e daí surgiu
uma emanação adulta, a figura de Kali. Tanto Durga, como Kali estão relacionadas com Shiva.
Na trindade hindú, Shiva recebeu o apelativo de "destrutor", rosto divino da inestabilidade.
Kali é considerada uma deusa guerreira, ainda que leva suas batalhas contra forças demoníacas.
Tenho uma filha que se chama Paloma Kali, com esse nome, eu esperava que um dia ela me
acertasse uma flecha envenenada, alimentada por um ódio materno, No começo doeu, me levou
a revisar os motivos da flechada, depois ri aliviado:"ela é forte suficiente para seguir seu caminho...e eu nunca fui modelo de perfeição".
Segundo um amigo, que considero, me disse:"nós nascemos com a o sinal de Caim!".
Não sei se a paz, é a trip dos filhos de Caim, talvez seja a justiça ou a verdade, nesse mundo,
interior ou exterior, já que Deus não morreu, ele nunca viveu...é só uma onda inventada para
não assumir a tragédia desse mundo, que parece cada vez mais absurdo(Camus)...
Aliás Deus, é uma criação recente da humanidade, em torno de 3 a 4000 anos, segundo antropólogos e arqueólogos, totalmente enexistente nos povos "primitivos", o que é presente
nesses povos, existentes até hoje, é de um espírito-força, que habita todas as coisas vivas e
não vivas, que faz com que todos seres estejam interligados e que estamos enraizados nesse
espírito-força...dessa fonte emanam os seres...nessa fonte são acolhidos os seres que desaparecem como formas vísiveis...
Nós somos um mundo. Estabelecer a paz em nós, é estabelecer a paz no mundo. Somos muitos
habitantes de muitos mundos.
Enquanto, estou terminando de escrever essas linhas, chega minha filha e me dá uma noticia:
-"Pai você já viu uma foto da nova encarnação de Chagdud Tulku Rinponche?".
O venerável Chagdud Rinpoche, o mestre tibetano que teve por essas terras e construiu templos
sangha, foi de quem recebi iniciação formal no budismo tibetano, hoje tem 5 anos, cuidado por
lamas tibetanos, se diz que é uma criança muito levada. Sou tomado por emoção com a notícia.
Se de Osho aprendi da alegria de viver, de Chagdud aprendi, um pouco, a lidar com o sofrimento.
Muitos dos sofrimentos, parte do viver, nos dias de hoje, são medicalizados, tomados como doenças.
Que a Paz esteja conosco!


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