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Budismo e liberação

Respondendo a Matilde,
Não fui eu quem disse que existem libros que servem aos aparelhos de Estado
e que existem outros livros que são 'máquinas de guerra', que abrem espaços
nos modos estabelecidos de pensar, sentir, fazer...livros que se conectam com
ações no mundo...
Eu estava citando e introduzindo temas Deleuzeanos...
Deleuze se referia, no contexto, a determinadas obras da filosofia e da literatura,
como máquinas de guerra,por exemplo:
"O processo", "O castelo", "A metamorfose" de Kafka.
"As criadas" de Genet.
"O homem rebelde" de Camus
"Crepúsculos dos ídolos", "Genealogia da Moral","Além do bem e do mal"de Nietzsche.
"O Anti-Édipo" de Deleuze e Guatarri.
"O amante de lady Chaterly"D.H. Lawrence
Os livros de Foucault...etc;
É interessante a pergunta do Budismo como via de liberação...
A questão é: O Budismo(são muitas formas de Budismo)tem relação com sua cultura, com as instituições da índia, por exemplo, onde surgiu? Que tipo de relação?
O Budismo que tem seus livros, mas se constitue como práticas, modos de Vida.
É intressante que o budismo, em alguns contextos e modos de apresentação, tem tudo que ver, com o que Foucault chama de Cuidado de Si, Estética da Existência, com suas Técnicas de Si, seus modos de resistir aos poderes de uma sociedade.
O Budismo tem seus 3 pilares: O Buda, o Dharma(os ensinamentos)e a Shanga(a comunidade de praticantes).
Se adaptou a outros paises, sociedades, culturas:Birmania, Nepal, Tibete, Sri Lanka,
Butão,Tailândia, China, Japão, EUA, Europa,America Latina, Vietnam, etc; em momentos distintos da história desses países; ele evolui, ou desenvolve outras formas, linhagens...
Se institucionalizou, adquiriu formas mais ossificadas, com suas disciplinas, códigos de moralidade...
Em alguns países assumiu formas de resistência, na guerra do Vietnam, por exemplo...
Talvez o Zen no Japão...ou em núcleos de resistência na China...ou mesmo no Tibet...
O Zen no EUA...ou na Europa...O Budismo de Osho na India...Que relações o Budismo,
em suas variantes, tem com a cultura globalizadora, baseada na identidade, "cultura do narcisismo", materialista, consumidora, mente aquisitiva, competitiva, violenta, imperialista, cultura da distração, "sociedade do espetáculo", cultura baseada na continuidade do 'eu', clones, projeto genoma,imortalidade, salvação...etc,?
Talvez a metáfora bélica não seja boa para o Budismo, mas ele joga uma espécie de luta com o ego, com vaselina, o ego como uma ficção depositária das paixões e fixações da sociedade...o sujeito vai buscar 'algo' e vai se vendo que não tem nada a ganhar...só tem a perder...aquilo que considera mais precioso...
Daria para dizer para o pretendente: Olha fica na sua, você não vai ter nenhum lucro?
Tem livros budistas que se poderia chamar uma 'máquina de guerra", por exemplo:"Materialismo Espiritual" de Chogyam Trungpa, budista tibetano, ele despe as ilusões da espiritualidade New Age e o modo de vida americano, com muita habilidade, finura...Trungpa no livro "Shambala",que ele chama o 'Caminho do Gurreiro', é uma máquina de guerra...porque não? Um guerreiro não necessita usar armas de fogo ou metal...ele pode ser sedutor, doce e de repente lhe acerta um golpe...no ego...corta a cabeça do 'bicho'...
Existem livros do budismo que combatem formas de budismo instituidas...os mestres Zen
são artífices na zombaria...ás vezes usam métodos agressivos, ameaçam cortar a cabeça
de um gato se o díscipulo não responder a uma pergunta absurda...
Bodhidharma é retratado de modo feroz...estava disposto a perder a vida...
O Buda era artimanhoso, por exemplo, alguém chegava e lhe perguntava se 'Deus' ou o equivalente hindu existia? Ele respondia que NÃO. A outro ele dizia que Sim. A um outro ele dizia que SIM e NÃO. A um quarto ele ficava em silencio.
Alan Watts tem uma tese interessante: de que o Budismo, na época do Buda, é um 'Caminho de Liberação' em relação aos códigos sociais, culturais, religiosos da India,com sua sociedade de castas, com a dominação patriarcal, com suas crenças na re-encarnação, com sua crença no Atman(alma)e Brahma(Deus criador)...então o budismo para conviver em tal meio social, não entra em oposição, em conflito...ele toma os pressupostos morais, hábitos e crenças enraizadas...e os individuos que entram na Shanga, segundo seu grau de desenvolvimento, são convidados a explorar por si mesmos,
segundo algumas práticas, perguntas, observações, análises...sua própia 'mente', que é depositária daquela cultura...a mente é um agregado cultural...o que tem que cair, cai...de algo 'composto', se vai tirando as partes...se sobrar alguma 'coisa', que não seja um agregado, que não necessite de nada como sustentáculo...é uma investigação redical...daí o conceito e a experiência de Sunyata(vacuidade)é tão fundamental no Budismo...'tudo que é sólido se desmancha no ar'...essa frase de Marx, poderia ser de Buda...O Budismo é científico...ele não esta apoiado em crenças...dai que o Dalai Lama se relaciona com os cientistas...essa já é uma articulação com a cultura contemporanea...mas que ciência?
E se o Dalai Lama, não fosse tão pacífico, e montasse sua máquina de guerra, para desmontar os sorrizinhos dos chineses tirado com máquinas fotográficas baratas montadas por operários escravos? E se o Dalai não fosse tão bonzinho?
E se os monges de Miamar(antiga Birmânia)montassem uma máquina de guerra?
O Neo-budista Osho, acertava uns espetinhos na bunda do Papa, no idiota do Ronaldo Reagan, nos pacifistas...fazia piadinhas picantes e desmoralizadoras dessas figuras de autoridade...quando lhe prenderam nos EUA e lhe envenaram na prisão, ele falava o
que lhe tinham feito e zombava da hipocrisia dos Senhores desse Mundo...alguns livros-discursos de Osho são livros bomba...Ronaldo Reagan não era um idiota? O Papa não é bundão, um moralista jurassico? O EUA, que se diz o país da liberdade, não mandou Osho, Reich, Tim Leary para a prisão, por dizerem o que pensavam? Que Democracia é essa? Eles não inventam mentiras para invadir outros paises em nome do bem, para lhe roubar o petroleo?
Que se faz? rezamos e seremos bonzinhos com o 'bicho papão'?
Mas retornando á questão como a tomei, como interessante é: O budismo é um caminho
é uma prática do Cuidado de Si, que surge independente dos contextos sociais ou culturais? Ou surgem em resposta a esses contextos?
Se diz que o budismo é como um barco para te levar á outra margem do rio...estando lá é necessário abandonar o barco...

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