A vida,amigo,não é mole não.
Muitas e muitas vezes, parece insuportável.
Eu no trabalho, como psiquiatra trabalhando na saúde pública,
escuto e vejo diáriamente, situações infernais, de deixar os
cabelos eriçados. Que mundo é esse?
A pobreza, a miséria, a falta de recursos e o seu circulo vícioso,
doença-falta de educação-batalha pelo pão nosso de cada dia-tempo escasso-ausência de recursos em diversos sentidos, para lidar com os reveses da existência...etc,etc,etc...
Não vou entrar em detalhes, mas a desigualdade social é um tema duro de roer...
Mas também sabemos que o sofrimento atinge qualquer classe social, de modos distintos, ás vezes a platôs insuportáveis...
Muitos pensadores ocidentais com espinho na carne, refletiram sôbre o sofrimento da condição humana, lembrando aqui de Soren Kierkeargard, precursor do existencialismo,
talvez mais psicológo do que filósofo, seus livros são testemunho do diagnóstico da
condição humana e tentativa de encontrar uma saída:"O conceito de angústia","Temor e tremor", "O desespero humano"...esse dinamarquês o sec. XVIII,
morreu com 32anos de idade...amadurecido pelo sofrimento.
Nietzsche, que sofreu prá caralho, se dizia o primeiro psicológo do ocidente, psicanalizou toda cultura ocidental, dizia que tinha sido precedido por Fiodor Dostóievski, mandado á prisão na Sibéria com 18 anos, salvo da morte no momento "H",o que operou uma transformação profunda, em toda sua obra se manifesta essa dimensão trágica da vida:"recordações da casa dos mortos"...
Van Gogh, o suicidado da sociedade...Antonin Artaud passsou por sofrimentos terríveis, suas internações em hospitais psiquiátricos, cobaia de eletrochoques...Kafka procurando linhas de fuga num sistema absurdo...
Albert Camus, colocou que a autentica questão da filosofia, é "cometer ou não cometer suicidio?"
Busquei refúgio no Buda, na Sangha, no Dharma...que é uma forma de prática espiritual
ou existencial refinada, sofisticada, matizada por determinadas experiências ou percepções...mas sempre me ficou a questão: o budismo nas suas variantes clásicas:
Hinayana, Mahayana e Vajrayana...servem ao ser humano comum, simples, sem as possibilidades de teinamento sofisticado e disciplinado, também reflexivo que exigem
esses caminhos?
Essa foi a a questão que os japoneses: Honen(1133-1212), seu aluno Shinran(1173-1263)e mais tarde Rennyo(1415-1499), buscaram responder átraves de suas vidas e ensinamentos ao "homem do povo".
Honen é considerado como sendo o fundador da Escola da Terra Pura no Japão, professor
a quem Shinran se confiou como mestre e que reverenciou por toda vida. Rennyo foi um
seguidor de Shiran que passou a vida popularizando os ensinamentos do seu mestre durante uma época conturbada.
Honen ensinou a prática exclusiva do "nembutsu", a recitação da frase:"Namu Amida Butsu"(Eu encontro refúgio no Buda Amida"). Amida era um dos nomes, ou avatares, do Buda, derivado do nome sânscrito Amithaba.
Se diz que Amithaba, Buda da suprema compaixão, manifestou que a simples pronúncia do seu nome era suficiente para proporcionar a liberação desse mundo de sofrimento.
Amithaba é um bodhisatva do caminho Mahayana(a grande via, o caminho aberto).
No ocidente se esta mais familiriazado com o budismo Zen(também Mahayana)e mais recentemente com o budismo tibetano Vajrayana, do que com o budismo da Terra Pura.
O Zen o budismo da Terra Pura são provávelmente, as duas principais correntes do budismo japônes. O Zen sempre foi uma tradição mais aristocrática, atraindo primeiro a nobreza e, depois, os líderes da classe guerreira, samurais, ele enfatiza o empenho
para atingir a iluminação, quer pela meditação, quer pela profunda introspecão.
Os seguidores do Zen, no Japão, devem deixar o mundo e se tornar monges, vivendo juntos em comunidades monásticas e seguindo suas regras. O budismo da Terra Pura,
em contraste, ensina uma prática simples, acessível a qualquer um: a recitação do nome do Buda. Se por um lado, o Zen enfatiza o esforço espiritual, o budismo da Terra Pura enfatiza a fé. O Zen ensina que cada pessoa é um Buda e deve alcançar sua iluminação. O budismo Terra Pura ensina que o Buda Amithaba já atingiu a iluminação,
existe para salvar qualquer um que invoque o seu nome com fé sincera. Como resultado,
o budismo Terra Pura atraiu seguidores entre homens comuns.
Terra Pura é como a própia fé, invisível, um mundo em escala infinita. É tempo eterno-algo que transcendeu todos conceitos de tempo. É isso que Honen, Shyran e Rennyo expressavam com o nome:"Buda Amida".
"Namu" significa "refugiar-se em", refugiar-se em alguma coisa, quer dizer abaixar a cabeça, entregar-se a ela completamente e fazer voto de unir-se a ela. A confiança e a coragem de aceitar a vida como ela se apresenta a cada um em dadas circunstâncias.
Rennyo desenvolveu o "nembutsu" de Shiran, de refuiar-se no Buda, em um "nembutsu"
que era era uma expressão de alegria e gratidão por encontrar o Buda, e foi essa forma que se popularizou. Ele não estava dirigindo o olhar a nenhuma imagem, mas á Terra Pura, uma região invisível, infinita, ilimitada, em oposição, ao pensamento
racional, especulativo e científico.
As regiões conhecidas como ceú e inferno são meros pontos de passagem no caminho para esa Terra Pura.
Qual era a fonte de confiança de Honen?
"Nascer na terra Pura por meio da prática fácil".
Honen disse que tudos que precisamos fazer era recitar o "nembutsu", "Nama Amida Butsu".
"Namu" é uma transliteração chinesa da palavra sânscrita "namas", que expressam respeito e confiança. A forma comum de saudação hindu, "Namaste", deriva do mesmo radical, e "te",significa"tu", "você".
Namas é "refugiar-se em", curvar a cabeça(rendero ego,o controle das situações da vida),"entrego tudo nas suas mãos". Aí esta a humildade autentica.
O mesmo diz Jesus, suas últimas palavras, num dos evangelhos:"Pai, em suas mãos entrego minha vida". Podemos ver em diversas variantes populares do cristianismo, essa mesma atitude de fé diante das vicissitudes da vida.
Rennyo, mais que Honen e Shiran, que vieram de classes altas, era um Jesus japônes,
inteiramente imerso na vida do povo.
E quem é esse "tu"? é o Buda Amithaba, que se traduz como "luz infinita", representa também a força vital que pulsa em todo universo. Amithaba é a luz da verdade que ilumina o mundo inteiro, sem exceção.
Butsu, em japonês, significa "aquele que despertou", para o grande e invisível poder do universo.
Quem desperta, mesmo que por um momento, vê claramente, que esa luz infinita abraça e
banha tudo, é a natureza profunda de todos os seres e de todo universo. A confiança de que tudo esta bem, assim com esta, é espontanea. Como trazer essa compreensão para todos seres humanos, nacapacidade de cada um de compreender ou de se confortar(refugiar-se)?
Esse foi o tema de Honen, Shyran, Rennyo, Jesus, São Franscisco...
O mestre Indiano Bhagwan S.Rajneesh,em meados dos anos 80, mudou de nome: Osho! Que em japônes, significa, "com respeito"...apenas isso...
Lembro que um dia, passseando em Punta Del Este, beira de um lago, comecei a brincar mantricamente, com as sílabas: Os-hooooo...como se tivesse tocando uma flauta ou soprando um bambu ôco...a mente esvaziou e me encontrei na Terra Pura...essa mesma terra vista com olhos de criança...
"Em verdade vós digo, se não vos tornardes criança, não entrareis no Reino..."
O "Reino de Deus", essa métafora usada por Jesus, é a Terra Pura do Buda Amithaba!
"Nembutsu"!
Muitas e muitas vezes, parece insuportável.
Eu no trabalho, como psiquiatra trabalhando na saúde pública,
escuto e vejo diáriamente, situações infernais, de deixar os
cabelos eriçados. Que mundo é esse?
A pobreza, a miséria, a falta de recursos e o seu circulo vícioso,
doença-falta de educação-batalha pelo pão nosso de cada dia-tempo escasso-ausência de recursos em diversos sentidos, para lidar com os reveses da existência...etc,etc,etc...
Não vou entrar em detalhes, mas a desigualdade social é um tema duro de roer...
Mas também sabemos que o sofrimento atinge qualquer classe social, de modos distintos, ás vezes a platôs insuportáveis...
Muitos pensadores ocidentais com espinho na carne, refletiram sôbre o sofrimento da condição humana, lembrando aqui de Soren Kierkeargard, precursor do existencialismo,
talvez mais psicológo do que filósofo, seus livros são testemunho do diagnóstico da
condição humana e tentativa de encontrar uma saída:"O conceito de angústia","Temor e tremor", "O desespero humano"...esse dinamarquês o sec. XVIII,
morreu com 32anos de idade...amadurecido pelo sofrimento.
Nietzsche, que sofreu prá caralho, se dizia o primeiro psicológo do ocidente, psicanalizou toda cultura ocidental, dizia que tinha sido precedido por Fiodor Dostóievski, mandado á prisão na Sibéria com 18 anos, salvo da morte no momento "H",o que operou uma transformação profunda, em toda sua obra se manifesta essa dimensão trágica da vida:"recordações da casa dos mortos"...
Van Gogh, o suicidado da sociedade...Antonin Artaud passsou por sofrimentos terríveis, suas internações em hospitais psiquiátricos, cobaia de eletrochoques...Kafka procurando linhas de fuga num sistema absurdo...
Albert Camus, colocou que a autentica questão da filosofia, é "cometer ou não cometer suicidio?"
Busquei refúgio no Buda, na Sangha, no Dharma...que é uma forma de prática espiritual
ou existencial refinada, sofisticada, matizada por determinadas experiências ou percepções...mas sempre me ficou a questão: o budismo nas suas variantes clásicas:
Hinayana, Mahayana e Vajrayana...servem ao ser humano comum, simples, sem as possibilidades de teinamento sofisticado e disciplinado, também reflexivo que exigem
esses caminhos?
Essa foi a a questão que os japoneses: Honen(1133-1212), seu aluno Shinran(1173-1263)e mais tarde Rennyo(1415-1499), buscaram responder átraves de suas vidas e ensinamentos ao "homem do povo".
Honen é considerado como sendo o fundador da Escola da Terra Pura no Japão, professor
a quem Shinran se confiou como mestre e que reverenciou por toda vida. Rennyo foi um
seguidor de Shiran que passou a vida popularizando os ensinamentos do seu mestre durante uma época conturbada.
Honen ensinou a prática exclusiva do "nembutsu", a recitação da frase:"Namu Amida Butsu"(Eu encontro refúgio no Buda Amida"). Amida era um dos nomes, ou avatares, do Buda, derivado do nome sânscrito Amithaba.
Se diz que Amithaba, Buda da suprema compaixão, manifestou que a simples pronúncia do seu nome era suficiente para proporcionar a liberação desse mundo de sofrimento.
Amithaba é um bodhisatva do caminho Mahayana(a grande via, o caminho aberto).
No ocidente se esta mais familiriazado com o budismo Zen(também Mahayana)e mais recentemente com o budismo tibetano Vajrayana, do que com o budismo da Terra Pura.
O Zen o budismo da Terra Pura são provávelmente, as duas principais correntes do budismo japônes. O Zen sempre foi uma tradição mais aristocrática, atraindo primeiro a nobreza e, depois, os líderes da classe guerreira, samurais, ele enfatiza o empenho
para atingir a iluminação, quer pela meditação, quer pela profunda introspecão.
Os seguidores do Zen, no Japão, devem deixar o mundo e se tornar monges, vivendo juntos em comunidades monásticas e seguindo suas regras. O budismo da Terra Pura,
em contraste, ensina uma prática simples, acessível a qualquer um: a recitação do nome do Buda. Se por um lado, o Zen enfatiza o esforço espiritual, o budismo da Terra Pura enfatiza a fé. O Zen ensina que cada pessoa é um Buda e deve alcançar sua iluminação. O budismo Terra Pura ensina que o Buda Amithaba já atingiu a iluminação,
existe para salvar qualquer um que invoque o seu nome com fé sincera. Como resultado,
o budismo Terra Pura atraiu seguidores entre homens comuns.
Terra Pura é como a própia fé, invisível, um mundo em escala infinita. É tempo eterno-algo que transcendeu todos conceitos de tempo. É isso que Honen, Shyran e Rennyo expressavam com o nome:"Buda Amida".
"Namu" significa "refugiar-se em", refugiar-se em alguma coisa, quer dizer abaixar a cabeça, entregar-se a ela completamente e fazer voto de unir-se a ela. A confiança e a coragem de aceitar a vida como ela se apresenta a cada um em dadas circunstâncias.
Rennyo desenvolveu o "nembutsu" de Shiran, de refuiar-se no Buda, em um "nembutsu"
que era era uma expressão de alegria e gratidão por encontrar o Buda, e foi essa forma que se popularizou. Ele não estava dirigindo o olhar a nenhuma imagem, mas á Terra Pura, uma região invisível, infinita, ilimitada, em oposição, ao pensamento
racional, especulativo e científico.
As regiões conhecidas como ceú e inferno são meros pontos de passagem no caminho para esa Terra Pura.
Qual era a fonte de confiança de Honen?
"Nascer na terra Pura por meio da prática fácil".
Honen disse que tudos que precisamos fazer era recitar o "nembutsu", "Nama Amida Butsu".
"Namu" é uma transliteração chinesa da palavra sânscrita "namas", que expressam respeito e confiança. A forma comum de saudação hindu, "Namaste", deriva do mesmo radical, e "te",significa"tu", "você".
Namas é "refugiar-se em", curvar a cabeça(rendero ego,o controle das situações da vida),"entrego tudo nas suas mãos". Aí esta a humildade autentica.
O mesmo diz Jesus, suas últimas palavras, num dos evangelhos:"Pai, em suas mãos entrego minha vida". Podemos ver em diversas variantes populares do cristianismo, essa mesma atitude de fé diante das vicissitudes da vida.
Rennyo, mais que Honen e Shiran, que vieram de classes altas, era um Jesus japônes,
inteiramente imerso na vida do povo.
E quem é esse "tu"? é o Buda Amithaba, que se traduz como "luz infinita", representa também a força vital que pulsa em todo universo. Amithaba é a luz da verdade que ilumina o mundo inteiro, sem exceção.
Butsu, em japonês, significa "aquele que despertou", para o grande e invisível poder do universo.
Quem desperta, mesmo que por um momento, vê claramente, que esa luz infinita abraça e
banha tudo, é a natureza profunda de todos os seres e de todo universo. A confiança de que tudo esta bem, assim com esta, é espontanea. Como trazer essa compreensão para todos seres humanos, nacapacidade de cada um de compreender ou de se confortar(refugiar-se)?
Esse foi o tema de Honen, Shyran, Rennyo, Jesus, São Franscisco...
O mestre Indiano Bhagwan S.Rajneesh,em meados dos anos 80, mudou de nome: Osho! Que em japônes, significa, "com respeito"...apenas isso...
Lembro que um dia, passseando em Punta Del Este, beira de um lago, comecei a brincar mantricamente, com as sílabas: Os-hooooo...como se tivesse tocando uma flauta ou soprando um bambu ôco...a mente esvaziou e me encontrei na Terra Pura...essa mesma terra vista com olhos de criança...
"Em verdade vós digo, se não vos tornardes criança, não entrareis no Reino..."
O "Reino de Deus", essa métafora usada por Jesus, é a Terra Pura do Buda Amithaba!
"Nembutsu"!
Comentários
reli esse teu texto.
muito preciso e poético.
apontas muito bem a diferença entre essas escolas.
creio que o proprio budismo tibetano se aproxima muito mais do povo do que o zen, visto que é o budismo de uma nacao inteira, parte dela analfabeta a quem restava rodar a roda de oraçoes ou pindurar bandeirolas para que o vento as rezasse.
sem contar o estilo tantrico que tambem absorve as crenças miticas de um povo inteio...
abracao
aires